terça-feira, 5 de abril de 2016

Resposta a uma leitora que acusou o Islamismo de ser machista

Comentário dela seguido das minhas respostas:


A leitora do meu blog Annie Bitercourt postou o seguinte comentário no meu artigo "A Mulher Muçulmana - Mais um enfoque na questão feminina no Islamismo":

Por que o homem tem direito a 4 mulheres mas não pode o contrário? E aquela história de quando uma mulher está menstruada não pode ir na Mesquita porque a consideram suja? Eu conheço vários árabes, e na experiência próxima a mim uma jovem, árabe e muçulmana, inteligentissima, formada e tudo, após se casar simplesmente a deixam reclusa cuidando de um filho. Por que ela não pode trabalhar tbm e o marido cuidar do filho pra variar? Na hora de fazer precisou dos 2. E não é só essa conhecida minha, tenho diversos exemplos que poderia passar o dia citando. O islam é machista sim, assim como qualquer religião.

Senti-me, então, compelido a respondê-la e achei também interessante compartilhar tanto as questões dela quanto as minhas resposta, caso seja a opinião de outras pessoas. Seria interessante sabermos sobre isso. Eis aqui as minhas respostas:
Annie Bitencourt....vou tentar responder suas questões e quiçá transformar a resposta em uma nova postagem....
1- A permissibilidade do homem se casar quatro vezes e a mulher não surgiu nos primeiros tempos do Islamismo. Com inúmeras guerras onde muitos homens morriam, e em um momento em que as mulheres não tinham a independência econômica e profissional que têm hoje, a única saída era se casar novamente, para não caírem na mendicância ou na prostituição. Por isso foi permitido que um muçulmano se casasse com mais de uma mulher, com as viúvas dos muçulmanos mortos em combates religiosos. Isso não foi estendido às mulheres porque isso poderia causar confusão nas descendências: um homem com quatro mulheres deve ser o pai de todos os filhos e filhas gerados pelas suas mulheres, ao passo que uma mulher com vários esposos não saberia (pelo menos não em uma época sem os "testes de paternidade") quem era o pai. Mas a poligamia tem as suas regras: a primeira mulher tem que autorizar um novo casamento e as condições devem ser as mesmas para todas as mulheres. Devo deixar claro que este era um costume antigo que está em desuso. Apenas em locais mais tradicionais, com uma sociedade mais fechada, esta prática ainda é levada a cabo.
2- Sobre a mulher suja em uma mesquita, isso me parece um pouco óbvia. Um homem sujo pela prática do ato sexual (isto é, se ele praticou ato sexual e não se lavou) também é impossibilitado de entrar na mesquita. Aliás todos devem se lavar, menstruadas ou não, antes de entrar para a reza na mesquita. A limpeza antes de entrarmos na mesquita vale para homens e mulheres e não se resume à mulher menstruada. Quero aqui aproveitar para falar sobre o fato de homens e mulheres ficarem separados na mesquita: não se trata de misoginia, mas um raciocínio lógico: a reza pressupõe genuflexões e agachamentos que, se fossem feitos com homens e mulheres no mesmo lugar, poderiam com certeza desviar a atenção de ambos da oração. Portanto não é discriminação, mas pensamento lógico e prático.
3- Sobre a jovem formada e competente que fica em casa cuidando do filho, isso não é uma obrigação islâmica de forma alguma. Aliás a religião islâmica foi a primeira a incentivar a liberdade feminina, o estudo e o direito ao divórcio e à herança em uma época em que as mulheres eram submissas a seus maridos entre cristãos europeus. Mais uma vez estamos falando de um pensamento regionalista, uma questão de costumes conservadores de uma determinada família ou de uma determinada região do país. Não podemos confundir costumes locais ou familiares com determinações religiosas. O Alcorão não prescreve a mutilação genital feminina, pelo contrário, isso era um costume local e não uma determinação religiosa.
A moça em questão tem total direito a estudar e colocar em prática profissional os seus conhecimentos, assim como o marido deve ajudá-la nos afazeres domésticos e no cuidado com os filhos. O Islamismo não determina que "lugar de mulher é em casa cuidando dos filhos", muito pelo contrário.
Para completar o Islamismo não é machista. Como disse antes: em uma época em que as mulheres eram juridicamente submissas aos homens, o Islã deu a elas o direito de pedir divórcio, de herdar bens sem a necessidade de homens, de irem à escola, à mesquita e etc. Não confunda o costume de uma parcela com o que a religião prega. Diz o Alcorão:

''Quanto aos muçulmanos e às muçulmanas, aos fiéis e às fiéis, aos consagrados e às consagradas, aos verazes e às verazes, aos perseverantes e às perseverantes, aos humildes e às humildes, aos caritativos e às caritativas, aos jejuadores e às jejuadoras, aos recatados e às recatadas, aos que se recordam muito de Deus e às que se recordam d'Ele, saibam que Deus lhes tem destinado a indulgência e uma magnífica recompensa.'' (Alcorão Sagrado 33:35).

Espero que tenha esclarecido algumas questões.....mas sempre podemos abrir novos pontos de raciocínio. Obrigado Annie.