terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A Virgem Maria no Islamismo

Muitas pessoas não sabem, mas os muçulmanos têm um profundo respeito pela mãe de Jesus.



O Alcorão possui toda uma Surata sobre a Virgem Maria exaltando sua figura como mãe do Profeta Jesus. Diz o Anjo Gabriel à Maria:
“Sou mensageiro do Teu Senhor. E Teu Senhor disse que te dar um filho sem relacionar-te com homem é facílimo para Ele (DEUS), que diz: - Faremos dele (do menino) um Sinal e Uma Graça Divina”.
Assim encerrou-se o diálogo entre o “Espírito Santo” e a Virgem Maria. "Os anjos disseram: Ó Maria, Deus elegeu-te e purificou-te e elevou-te sobre as mulheres do mundo. Ó Maria consagra-te a Teu Senhor, inclina-te e prostra-te com os orantes." Alcorão 3:42,43 23.
“Maria concebeu Jesus com sopro Divino. Assim o diz o Sagrado Alcorão: Maria era pura (casta), Nós (Deus) sopramos nela de Nosso Espírito”. Alcorão 66: 12 32. Então Deus infundiu em Maria um alento de Seu Espírito.
Os mulçumanos prestam uma grande devoção à Virgem Maria, inclusive chamando-a de “Imaculada”. O Anjo Gabriel, mensageiro de Allah, pela voz do Profeta Maomé (Muhammad), reveste a Imaculada Mãe de Jesus com as peculiaridades de santidade. Aliás, foi Ela a única mulher, nomeada no Alcorão, trinta e quatro vezes. A Virgem Maria é considerada a mulher mais perfeita, o exemplo perfeito do papel de mulher. O Islamismo aceita que engravidou virgem e que Jesus foi concebido por intercessão divina.
Islamismo e Cristianismo estão ligados pela grande devoção à Virgem Maria, expresso no próprio Alcorão (Máriam-19ª Surata). O Jesus Corânico é Seyydna Isa Ibn Máriam, que quer dizer, Jesus, filho de Maria. Os anjos disseram: - “ó Maria! Deus te anunciou um Verbo, emanado d’Ele, cujo nome é o Messias, Jesus, filho de Maria; será ilustre nesta vida e na outra, e contará entre os diletos de Deus. Ele falará aos homens no berço, assim como, na maturidade, e estará entre os virtuosos”. (AAL’IMRAN – 3ª Surata- 45, 46). 
A Virgem Maria é considerada, por alguns sufis (mulçumanos que mantém comunhão perfeita com Allah), a Mãe-Sabedoria, a mãe da Profecia e de todos os Profetas; por isso o Islã a chama de siddigah (a sincera), identificando-a com a Sabedoria, com a Santidade, com a Sinceridade e com a total concordância à Verdade.
Máriam é a pureza inviolável e fecundação divina; abundância de graças, e personifica de maneira irrefutável a feminilidade, a pureza, a beleza e a misericórdia celestiais, Ela é mencionada na Sura dos profetas (ALAN-BIYÁ- 21ª Surata, aya 91), junto com outros Mensageiros-Sayyaidatã Maryam sua dignidade profética.
O Islamismo associa intrinsecamente Jesus à Virgem Maria e torna-se Jesus à Virgem Maria e torna-se clara essa associação pela maneira que o Alcorão a apresenta, dizendo que Jesus foi a Mensagem da Virgem Abençoada. No Corão, Jesus é citado vinte e cinco vezes, seja como filho de Maria, ou o Messias Jesus, filho de Maria. Mas, o Messias filho de Maria, é apenas um Profeta (Corão 5,75), entre os demais, é um enviado de Deus (3,49), é um servo de Deus. Maria, mãe de Jesus, é a única mulher que o Corão chama pelo nome. Nenhuma mulher, entre todas, é citada pelo nome, no Livro Sagrado dos muçulmanos, exceto Maria, mãe de Jesus! Nem a mãe de Maomé, nem a esposa ou as filhas dele, são nominadas no Alcorão, e, entretanto, a mãe de Jesus Cristo é citada mais de trinta (30) vezes!
Entre os preceitos do Islã, que os mulçumanos ainda observam fervorosamente até os dias atuais, é o tratamento atencioso para com as mães. A honra que as mães mulçumanas recebem de seus filhos e filhas é exemplar. As relações afetuosas entre as mães mulçumanas e seus filhos, e o profundo respeito com que os homens se aproximam de suas mães, é algo admirável e sagrado.

Surata Maryan (capítulo "Maria"):

"MÁRIAM"
(MARIA)

Revelada em Makka; 98 versículos, com exceção dos versículos 58 e 71, que foram revelados em Madina.
19ª SURATA
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.
Caf, Ha, Yá, Ain, Sad.(866)

Eis o relato da misericórdia de teu Senhor para com o Seu servo, Zacarias.(867)

Ao invocar, intimamente,(868) seu Senhor,

Dizendo: Ó Senhor meu, os meus ossos estão debilitados, o meu cabelo embranqueceu; mas nunca fui desventurado em minhas súplicas a Ti, ó Senhor meu!(869)

Em verdade, temo pelo que farão os meus parentes, depois da minha morte, visto que minha mulher é estéril. Agracia-me, de tua parte, com um sucessor!(870)

Que represente a mim e à família de Jacó; e faze, ó meu Senhor, com que esse seja complacente!

Ó Zacarias, alvissaramos-te o nascimento de uma criança, cujo nome será Yahia (João). Nunca denominamos, assim, ninguém antes dele.(871)

Disse (Zacarias): Ó Senhor meu, como poderei ter um filho, uma vez que minha mulher é estéril e eu cheguei à senilidade?

Respondeu-lhe: Assim será! Disse teu Senhor: Isso Me é fácil, visto que te criei antes mesmo de nada seres.(872)

Suplicou: Ó Senhor meu, faze-me um sinal!(873) Disse-lhe: Teu sinal consistirá em que não poderás falar com ninguém durante três noites.

Saiu do templo e, dirigindo-se ao seu povo, indicou-lhes, por sinais, que glorificassem Deus, de manhã e à tarde.

(Foi dito): Ó Yahia, observa fervorosamente o Livro!(874) E o agraciamos, na infância, com a sabedoria,

assim como com as Nossas clemência e pureza, e foi devoto,(875)

e piedoso para com seus pais, e jamais foi arrogante ou rebelde.

A paz esteve com ele desde o dia em que nasceu, no cia em que morreu e estará no dia em que foi ressuscitado.

E menciona Maria, no Livro, a qual se separou de sua família, indo para um local que dava para o leste.(876)

E colocou uma cortina para ocultar-se dela (da família), e lhe enviamos o Nosso Espírito, que lhe apareceu personificado, como um homem perfeito.

Disse-lhe ela: Guardo-me de ti no Clemente, se é que temes a Deus.

Explicou-lhe: Sou tão-somente o mensageiro do teu Senhor, para agraciar-te com um filho imaculado.(877)

Disse-lhe: Como poderei ter um filho, se nenhum homem me tocou e jamais deixei de ser casta?

Disse-lhe: Assim será, porque teu Senhor disse: Isso Me é fácil! E faremos disso um sinal para os homens, e será uma prova de Nossa misericórdia(878). E foi uma ordem inexorável.(879)

E quando concebeu, retirou-se, com um rebento a um lugar afastado(880).

As dores do parto a constrangeram a refugiar-se junto a uma tamareira. Disse: Oxalá eu tivesse morrido antes disto, ficando completamente esquecida(881).

Porém, chamou-a uma voz, junto a ela: Não te atormentes, porque teu Senhor fez correr um riacho a teus pés!

E sacode o tronco da tamareira, de onde cairão sobre ti tâmaras madura e frescas.

Come, pois, bebe e consola-te;(882) e se vires algum humano, faze-o saber que fizeste um voto de jejum ao Clemente, e que hoje não poderás falar com pessoa alguma.(883)

Regressou ao seu povo levando-o (o filho) nos braços. E lhes disseram: Ó Maria, eis que fizeste algo extraordinário!(884)

Ó irmão de Aarão,(885) teu pai jamais foi um homem do mal, nem tua mãe uma (mulher) sem castidade!

Então ela lhes indicou que interrogassem o menino.(886) Disseram: Como falaremos a uma criança que ainda está no berço?

Ele lhes disse: Sou o servo de Deus, o Qual me concedeu o Livro e me designou como profeta.

Fez-me abençoado, onde quer que eu esteja, e me encomendou a oração e (a paga do) zakat enquanto eu viver.(887)

E me fez piedoso para com a minha mãe, não permitindo que eu seja arrogante ou rebelde.(888)

A paz está comigo, desde o dia em que nasci; estará comigo no dia em que eu morrer, bem como no dia em que eu for ressuscitado(889).

Este é Jesus, filho de Maria; é a pura verdade, da qual duvidam(890).

É inadmissível que Deus tenha tido um filho. Glorificado seja! quando decide uma coisa, basta-lhe dizer: Seja!, e é.(891)

E Deus é o meu Senhor e vosso. Adorai-O, pois! Esta é a senda reta.(892)

Porém, as seita discordaram a seu respeito. Ai daqueles que não crêem no comparecimento ao grande dia!

Quão ouvintes e quão videntes serão, no dia em que comparecerem ante Nós! Porém, os iníquos estão, hoje, em um evidente erro.

E admoesta-os sobre o dia do lamento, quando a sentença for cumprida, enquanto estão negligentes e não crêem.

Em verdade, Nós herdaremos a terra com todos os que nela estão e a Nós retornarão todos.

E menciona, no Livro, (a história de) Abraão; ele foi um homem de verdade, e um profeta.

Ele disse ao seu pai: Ó meu pai, por que adoras quem não ouve, nem vê, ou que em nada pode valer-te?

Ó meu pai, tenho recebido algo da ciência, que tu não recebeste. Segue-me, pois, que eu te conduzirei pela senda reta!

Ó meu pai, não adores Satanás, porque Satanás foi rebelde para com o Clemente!

Ó meu pai, em verdade, temo que te açoite um castigo do Clemente, tornando-te, assim, amigo de Satanás.

Disse-lhe: Ó Abraão, porventura detestas as minhas divindades? Se não desistires, apedrejar-te-ei. Afasta-te de mim!

Disse-lhe: Que a paz esteja contigo! Implorarei, para ti, o perdão do meu Senhor, porque é Agraciante para comigo.

Abandonar-vos-ei, então, com tudo quanto adorais, em vez de Deus. Só invocarei o meu Senhor; espero, com a invocação de meu Senhor, não ser desventurado.(893)

E quando os abandonou com tudo quanto adoravam, em vez de Deus, agraciamo-lo com Isaac e Jacó, e designamos ambos como profetas.(894)

E os recompensamos com a Nossa misericórdia, e lhes garantimos honra e a língua veraz.(895)

E menciona Moisés, no Livro, porque foi leal e foi um mensageiro e um profeta.(896)

Chamamo-lo à escarpa direita do Monte(897) e fizemos com que se aproximasse, para uma confidência.

E o agraciamos com a Nossa misericórdia, com seu irmão Aarão, outro profeta.(898)

E menciona, no Livro, ( a história real) de Ismael, porque foi leal às suas promessas e foi um mensageiro e profeta.(899)

Encomendava aos seus a oração e a paga do zakat, e foi dos mais aceitáveis aos olhos de seu Senhor.

E menciona, no Livro, (a história de) Idris(900), porque foi (um homem) de verdade e, um profeta.

Que elevamos a um estado de graça.

Eis aqueles que Deus agraciou, dentre os profetas, da descendência de Adão, os que embarcamos com Noé, da descendência de Abraão(901) e de Israel, que encaminhamos e preferimos sobre os outros, os quais, quando lhes são recitados os versículos do Clemente, prostram-se, contritos, em prantos.

Sucedeu-lhes, depois, uma descendência, que abandonou a oração e se entregou às concupiscências. Porém, logo terão o seu merecido castigo,

Salvo aqueles que se arrependerem, crerem e praticarem o bem; esses entrarão no Paraíso, e não serão injustiçados.

(Repousarão nos) Jardins do Éden, que o Clemente prometeu aos Seus servos por meio de revelação, incognoscivelmente, e Sua promessa é infalível.

Ali não escutarão futilidades, mas palavras de saudações, e receberão o seu sustento de manhã e à tarde.

Tal é o Paraíso, que deixaremos como herança a quem, dentre os Nossos servos, for devoto.

E (os anjos) dirão: Não nos locomovemos de um local para o outro sem a anuência de teu Senhor, a Quem pertencem o nosso passado, o nosso presente e nosso futuro, porque o teu Senhor jamais esquece.

É o Senhor dos céus e da terra, e de tudo quanto existe entre ambos. Adora-O, pois, e sê perseverante em Sua adoração! Conheces-Lhe algum parceiro?

Porém, o homem diz: Quê! Porventura, depois de morto serei ressuscitado?

Por que não recorda o homem que o criamos quando nada era?

Por teu Senhor, que os congregaremos com os demônios, e de pronto os faremos comparecer, de joelhos, à beira do inferno!

Depois arrancaremos, de cada grupo, aquele que tiver sido mais rebelde para com o Clemente.

Certamente, sabemos melhor do que ninguém quem são os merecedores de ser ali queimados.

E não haverá nenhum de vós(902) que não tenha por ele, porque é um decreto irrevogável do teu Senhor.

Logo salvaremos os devotos e deixaremos ali, genuflexos, os iníquos.

Quando lhes são recitados os Nosso lúcidos versículos, os incrédulos dizem aos fiéis: Qual dos dois partidos, o nosso ou o vosso, ocupa melhor posição e está em melhores condições?

Quantas gerações, anteriores a eles aniquilamos! São eles mais opulentos e de melhor aspecto?

Dize-lhes: Quem quer que seja que estiver no erro, o Clemente o tolerará deliberadamente até que veja o que lhe foi prometido, quer seja o castigo terreno, quer seja o da Hora (do Juízo final); então, saberão quem estará em pior situação, e terá os prosélitos mais débeis.

E Deus aumentará os orientados na orientação. As boas ações, as perduráveis, são mais meritórias e mais apreciáveis aos olhos do teu Senhor.

Não reparaste naquele que negava os Nossos versículos e dizia: Ser-me-ão dados bens e filhos?

Está, porventura, de posse do incognoscível? Estabeleceu, acaso, um pacto com o Clemente?

Qual! Registramos tudo o quanto disser, e lhe adicionaremos mais e mais o castigo!

E a nós retornará tudo que disser, e comparecerá, solitário, ante Nós.

Adotam divindades, em vez de Deus, para lhes dar poder.

Qual! Tais divindades renegarão a adoração e serão os seus adversários!

Não reparas em que concedemos o predomínio dos demônios sobre os incrédulos para que os seduzissem profundamente?

Não lhes apresses, pios, seu castigo (ó Mohammad), porque computamos estritamente os seus dias.

Recorda-lhes o dia em que o congregaremos, em grupos, os devotos, ante o Clemente.

E arrastaremos os pecadores, sequiosos, para o inferno.

Não lograrão intercessão, senão aqueles que tiverem recebido a promessa do Clemente.

Afirmam: O Clemente teve um filho!

Sem dúvida que haveis proferido uma heresia.(903)

Por isso, pouco faltou para que os céus se fundissem, a terra se fendesse e as montanhas, desmoronassem.

Isso, por terem atribuído um filho ao Clemente,

Quando é inadmissível que o Clemente houvesse tido um filho.(904)

Sabei que tudo quanto existe nos céus e na terra comparecerá, como servo, ante o Clemente.

Ele já os destacou e os enumerou com exatidão.(905)

Cada um deles comparecerá, solitário, ante Ele, no Dia da Ressurreição.

Quanto aos crentes que praticarem o bem, o Clemente lhes concederá afeto perene.

Só to facilitamos (o Alcorão), na tua língua para que, com ele, exortes os devotos e admoestes os impugnadores.

Quantas gerações anteriores a eles aniquilamos! Vês, acaso, algum deles ou ouves algum murmúrio deles?

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Mesquita Maior de Granada

Mezquita Mayor de Granada:

Após 511 anos a cidade de Granada, na Espanha, volta a ter uma mesquita.


O ano era 1492. O dia: 02 de Janeiro. Neste momento histórico os reis católicos Fernando V de Aragão e Isabel I de Castela entravam solenemente na cidade de Granada, no sul da Península Ibérica, e tomavam posse do último bastião muçulmano na Europa: as Guerras de Reconquista estavam encerradas.

Fernando e Isabel recebem a rendição da cidade de Granada em 02/01/1492

Imediatamente o palácio dos emires de Granada, a magnífica Alhambra, foi ocupada e ali, onde até então se louvava o nome de Allah há sete séculos, foram ministradas missas e procissões. As mesquitas foram transformadas em igrejas e a população muçulmana foi convertida ao cristianismo, em sua maioria forçada pela ameaça da morte na fogueira.

Mas no verão espanhol de 2003 uma mesquita foi inaugurada em Granada, 511 anos após a tomada da cidade pelos Reis Católicos. Foi, nas palavras dos próprios muçulmanos locais, um "hito histórico. Em sua página principal, o site da mesquita afirma o seguinte:
"La apertura de la Mezquita Mayor de Granada en el verano del año 2003 marcó un hito histórico, al igual que su silueta en el horizonte del Albaicín y frente a la majestuosa estampa de la Alhambra y Sierra Nevada representa un hito en el paisaje de Granada.
La Mezquita Mayor de Granada representa la restauración de un vínculo perdido y señala la continuidad, después de un paréntesis de 500 años, de una tradición fecunda y enriquecedora en todas las esferas del quehacer humano.
La Mezquita Mayor de Granada es también un signo de la vitalidad del mensaje profético del Islam y su relevancia en Europa y en Occidente. Las contribuciones al saber, el pensamiento y la cultura del mundo islámico a través de España fueron muy importantes en el pasado y los musulmanes europeos de hoy aspiramos a contribuir a la transformación del mundo en que vivimos donde tantas injusticias y dilemas acuciantes nos afectan a todos.
El Islam es el último mensaje revelado, que ofrece las alternativas viables y naturales al capitalismo voraz y a la rápida disolución de todos los valores en la actual sociedad de consumo".
A abertura da Mesquita Maior de Granada é um exemplo de tolerância e respeito, pelo qual os espanhóis de Granada estão de parabéns. A existência de um templo religioso é sempre importante para as comunidades locais onde estão construídos, mas no caso específico de Granada, com todas suas vicissitudes históricas ligadas à ocupação árabe, à Reconquista católica e à herança moçárabe local, torna-se ainda mais importante.
Vista do pátio interno da Mesquita Maior de Granada

Interior da Mesquita Maior de Granada em dia de oração

Site da Mezquita Mayor de Granada:

http://www.mezquitadegranada.com/





quinta-feira, 30 de junho de 2016

Dificuldades do Jejum de Ramadã no Brasil

É possível seguir a religião islâmica no Brasil?

O meio em que se vive interfere, mas não pode servir de desculpa.

A prática do Islamismo é algo que demanda um esforço pessoal imenso, haja vista os cinco pilares que devem ser cumpridos pelos muçulmanos. Mas não se pode negar que todo comportamento, quando é acompanhado pela maioria da sociedade que nos rodeia, torna-se mais "fácil" de ser cumprido. O contrário também é verificável: quando se é minoria em uma sociedade e, principalmente, quando seu comportamento vai de encontro aos costumes locais, a dificuldade de se cumprir estas metas é ainda maior.



Ser muçulmano, no Brasil, é uma tarefa extenuante. Exemplos não faltam: o consumo de carne de porco é proibida, mas em várias ocasiões os brasileiros colocam "porco" na alimentação diária e nem percebem isso. Comer fora de casa, ou até em casa mesmo, é um desafio constante. A época do jejum do Ramadã é outro momento de esforço (Jihad): todos à sua volta estão comendo, bebendo e você tem que se abster de tudo. E tudo isso é possível apenas pela fé em Allah.
Conseguir realizar as cinco orações diárias e visitar as mesquitas nas sextas-feiras é também muito complicado: a correria do dia-a-dia, o trabalho e tudo o mais inviabiliza que consigamos parar para rezar e, pelo mesmo motivo, não conseguimos ir às mesquitas no meio do dia às sextas-feiras.
Enfim, tudo isso, no entanto, não pode servir de desculpa para não cumprirmos as determinações do Islamismo. Temos que colocar as coisas em perspectivas e estabelecer prioridades que, neste caso, tem que ser Allah.

Especifiquemos agora o caso do jejum do mês de Ramadã. Do nascer ao pôr do sol não se deve consumir nenhum alimento, nem bebida, nem mesmo a água, além de se abster das relações sexuais. Particularmente no meu caso o mais difícil é não beber nada. Em todos os locais em que trabalho (sou professor) as pessoas estão comendo algo, bebendo e oferecendo. Além de se abster dos alimentos e das bebidas, percebo que a prática do jejum traz a mim mais calma, eu falo menos, manifesto-me menos e as pessoas acham estranho. Normalmente eu sou uma pessoa expansiva, que sempre está no meio de conversações e brincadeiras. No mês sagrado de Ramadã, por outro lado, torno-me uma pessoa mais introspectiva e "polêmica". A falta de alimentos diminui nossa energia e naturalmente falamos e nos mexemos menos. As pessoas acham estranho este comportamento e sempre perguntam o que está acontecendo de diferente. Sempre me oferecem algum alimento ou chamam para uma situação em que iremos nos alimentar e também acham estranho quando eu nego.
Mas isso torna-se uma oportunidade de divulgação do Islamismo: ao me abster de comer e beber tenho a oportunidade de falar que estou de jejum, que é um jejum religioso, que sou muçulmano e como funciona o jejum de Ramadã. As pessoas acham estranho encontrar um muçulmano (particularmente acho que acham até temeroso), mas surge então a oportunidade de esclarecer o verdadeiro Islã, que nada tem a ver com terrorismo, fanatismo ou machismo tão vinculados na mídia.
Eu já fiz o jejum no verão e no inverno; no calor e no frio; trabalhando e de férias; cada época tem sua dificuldade mas também sua vantagem: no inverno ele termina mais cedo, por volta das 17:30, mas em compensação é necessário acordar mais cedo para tomar a refeição preparatória. No verão é o inverso: tem o problema do calor mas começa mais tarde. No frio a falta de alimentos aumenta a sensação de frio e no calor....bem, no calor o que faz falta mesmo é a água.

No meu caso especial sinto mais falta de bebidas do que de alimentos....mas já me acostumei a me abster e já não sofro muito com o jejum. Existem muitas vantagens no mês de Ramadã: damos mais valor aos alimentos e à água; entendemos o sofrimento daqueles que nada têm para comer; tornamo-nos mais introspectivos e serenos, envolvemo-nos menos em frivolidades e polêmicas. Enfim, é um momento único de concentração, devoção e de reforçar a fé em Allah. Como respondi a uma colega que me perguntou como eu consigo ficar sem comer nada nem beber: a Fé.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Resposta a uma leitora que acusou o Islamismo de ser machista

Comentário dela seguido das minhas respostas:


A leitora do meu blog Annie Bitercourt postou o seguinte comentário no meu artigo "A Mulher Muçulmana - Mais um enfoque na questão feminina no Islamismo":

Por que o homem tem direito a 4 mulheres mas não pode o contrário? E aquela história de quando uma mulher está menstruada não pode ir na Mesquita porque a consideram suja? Eu conheço vários árabes, e na experiência próxima a mim uma jovem, árabe e muçulmana, inteligentissima, formada e tudo, após se casar simplesmente a deixam reclusa cuidando de um filho. Por que ela não pode trabalhar tbm e o marido cuidar do filho pra variar? Na hora de fazer precisou dos 2. E não é só essa conhecida minha, tenho diversos exemplos que poderia passar o dia citando. O islam é machista sim, assim como qualquer religião.

Senti-me, então, compelido a respondê-la e achei também interessante compartilhar tanto as questões dela quanto as minhas resposta, caso seja a opinião de outras pessoas. Seria interessante sabermos sobre isso. Eis aqui as minhas respostas:
Annie Bitencourt....vou tentar responder suas questões e quiçá transformar a resposta em uma nova postagem....
1- A permissibilidade do homem se casar quatro vezes e a mulher não surgiu nos primeiros tempos do Islamismo. Com inúmeras guerras onde muitos homens morriam, e em um momento em que as mulheres não tinham a independência econômica e profissional que têm hoje, a única saída era se casar novamente, para não caírem na mendicância ou na prostituição. Por isso foi permitido que um muçulmano se casasse com mais de uma mulher, com as viúvas dos muçulmanos mortos em combates religiosos. Isso não foi estendido às mulheres porque isso poderia causar confusão nas descendências: um homem com quatro mulheres deve ser o pai de todos os filhos e filhas gerados pelas suas mulheres, ao passo que uma mulher com vários esposos não saberia (pelo menos não em uma época sem os "testes de paternidade") quem era o pai. Mas a poligamia tem as suas regras: a primeira mulher tem que autorizar um novo casamento e as condições devem ser as mesmas para todas as mulheres. Devo deixar claro que este era um costume antigo que está em desuso. Apenas em locais mais tradicionais, com uma sociedade mais fechada, esta prática ainda é levada a cabo.
2- Sobre a mulher suja em uma mesquita, isso me parece um pouco óbvia. Um homem sujo pela prática do ato sexual (isto é, se ele praticou ato sexual e não se lavou) também é impossibilitado de entrar na mesquita. Aliás todos devem se lavar, menstruadas ou não, antes de entrar para a reza na mesquita. A limpeza antes de entrarmos na mesquita vale para homens e mulheres e não se resume à mulher menstruada. Quero aqui aproveitar para falar sobre o fato de homens e mulheres ficarem separados na mesquita: não se trata de misoginia, mas um raciocínio lógico: a reza pressupõe genuflexões e agachamentos que, se fossem feitos com homens e mulheres no mesmo lugar, poderiam com certeza desviar a atenção de ambos da oração. Portanto não é discriminação, mas pensamento lógico e prático.
3- Sobre a jovem formada e competente que fica em casa cuidando do filho, isso não é uma obrigação islâmica de forma alguma. Aliás a religião islâmica foi a primeira a incentivar a liberdade feminina, o estudo e o direito ao divórcio e à herança em uma época em que as mulheres eram submissas a seus maridos entre cristãos europeus. Mais uma vez estamos falando de um pensamento regionalista, uma questão de costumes conservadores de uma determinada família ou de uma determinada região do país. Não podemos confundir costumes locais ou familiares com determinações religiosas. O Alcorão não prescreve a mutilação genital feminina, pelo contrário, isso era um costume local e não uma determinação religiosa.
A moça em questão tem total direito a estudar e colocar em prática profissional os seus conhecimentos, assim como o marido deve ajudá-la nos afazeres domésticos e no cuidado com os filhos. O Islamismo não determina que "lugar de mulher é em casa cuidando dos filhos", muito pelo contrário.
Para completar o Islamismo não é machista. Como disse antes: em uma época em que as mulheres eram juridicamente submissas aos homens, o Islã deu a elas o direito de pedir divórcio, de herdar bens sem a necessidade de homens, de irem à escola, à mesquita e etc. Não confunda o costume de uma parcela com o que a religião prega. Diz o Alcorão:

''Quanto aos muçulmanos e às muçulmanas, aos fiéis e às fiéis, aos consagrados e às consagradas, aos verazes e às verazes, aos perseverantes e às perseverantes, aos humildes e às humildes, aos caritativos e às caritativas, aos jejuadores e às jejuadoras, aos recatados e às recatadas, aos que se recordam muito de Deus e às que se recordam d'Ele, saibam que Deus lhes tem destinado a indulgência e uma magnífica recompensa.'' (Alcorão Sagrado 33:35).

Espero que tenha esclarecido algumas questões.....mas sempre podemos abrir novos pontos de raciocínio. Obrigado Annie.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Jesus no Islamismo - Parte 2

A diferença do Jesus "Cristão" para o Jesus "Muçulmano":

Diferentes Pontos de Vista cristãos sobre Jesus:

Atualmente, pode causar surpresa pensar que um cristão aceite outra descrição de Jesus além de "Ungido de Deus" ou "Salvador", porém, Négus (o rei da Abissínia) conhecia os argumentos teológicos que se debatiam entre várias seitas cristãs desde o princípio, se dividiram em duas correntes: por um lado, aqueles que seguiram a religião de Jesus e por outro aqueles que seguiram uma religião próxima de Jesus.
A primeira esteve composta por seus discípulos, os quais viviam como judeus, acreditavam em um único Deus e seguiam a Lei de Moisés, a qual Jesus "não veio para revogar, mas cumprir" (Matheus - 5:17), foram conhecidos como Arianos. Ário era um bispo do norte da África que deu ênfase à natureza humana de Jesus. A segunda corrente esteve encabeçada por Paulo, um orador carismático que nunca conheceu pessoalmente Jesus; eram conhecidos como Paulinos, eles focaram seus esforços em converter os judeus e em desenvolver uma teologia afastada do Antigo Testamento, que incluía a crença em uma trindade, os conceitos associados de pecado original e expiação, davam ênfase em Jesus como "filho" de Deus e o dogma central da (suposta) crucificação e ressurreição de Jesus.



O Concílio de Niceia:

As divergências entre estas e outras seitas haviam aumentado de tal forma durante o século IV que o imperador Constantino decidiu convocar o Concílio de Niceia (Iznik, Turquia) no ano de 325 d.C., onde os bispos do mundo cristão se reuniram pela primeira vez para debater a doutrina cristã, dando lugar à crença de uma trindade: "Pai, Filho e Espírito Santo". Os bispos que estiveram em desacordo foram declarados hereges, suas publicações foram proibidas e os evangelhos que apoiavam seus argumentos foram queimados. Isto marcou o nascimento da Igreja Católica Romana, a religião oficial do Império Romano.
Dezenas de evangelhos e outras escrituras que eram usadas com liberdade e que apresentavam uma visão alternativa de Jesus foram destruídas. Somente quatro foram incluídas no Novo Testamento, junto com muitos dos escritos de Paulo.
Apesar deste intento totalitarista de alcançar a "unidade religiosa", um pequeno número de seitas cristãs que se opuseram conseguiram sobreviver junto com alguns evangelhos alternativos que estiveram cuidadosamente ocultos, e que não saíram à luz até o século XX. As tribos germânicas da Europa se converteram diretamente ao cristianismo ariano ao invés do cristianismo romano. E um sentimento de desconfiança entre elas impulsionou mais tarde a Reforma Protestante e o estabelecimento de uma igreja unitária. Deu um ponto de vista histórico, as principais diferenças religiosas entre muçulmanos e cristãos são, em sua maioria, as que existiram entre os mesmo cristãos desde o início. Diferenças quanto à natureza e à missão de Jesus, sua relação com Deus e sobre a melhor forma de respeitá-lo e seguir seu exemplo.

Filho de Maria: Não "Filho" de Deus:

O Alcorão ensina o monoteísmo puro e simples: fé em um único Deus, Criador e Sustentador do Universo. Um Ser Supremo sem companheiros nem associados nem familiares. Não existe o conceito de intermediários no Islamismo, seja como sacerdote ou salvador, que deva interceder entre o ser humano e seu Criador. O Islamismo considera que a visão cristã na qual Jesus é "idolatrado" enquanto que Deus é "humanizado", obscurece o inestimável papel de Jesus como mestre e modelo. Ao mesmo tempo em que subestima imensamente a transcendental majestade de Deus. Para os muçulmanos é impossível que o Criador do Universo, o Todo Poderoso possa aparecer em qualquer forma humana, completa ou parcial, limitado pelo tempo e espaço.
O Alcorão, como a Bíblia, confirma que Jesus não teve pai humano, porém não aceita que isto o converta em filho de Deus como não aconteceu com Adão, que também foi criado sem pai nem mãe. Mas sim "quando decide um assunto, basta-lhe dizer: Sê. E é" (Alcorão - 3:47).
É interessante recordar que o termo Jesus é empregado frequentemente no Evangelho do Novo Testamento como "filho do homem" (em hebraico. literalmente, o "filho de Adão"), um termo que para os muçulmanos enfatiza sua natureza humana. A frase "filho do homem" também aparece no Antigo Testamento, conde ressalta a insignificância que o homem é ante Deus. (Jó - 25:4/6 e Salmos - 8:3/5).