terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie

O caso de Paris e o verdadeiro Islã:

Islamismo e Terrorismo não são sinônimos.

Je ne suis pas Charlie:



                Passaram-se alguns dias dos eventos trágicos de Paris e muitas coisas foram ditas e mostradas a respeito. Em alguns momentos surgiram sentimentos islamofóbicos, em outros, mentes mais sensatas soube-se separar o joio do trigo. Mas na verdade podemos dizer que os muçulmanos puderam expressar seus reais sentimentos e suas reais convicções a respeito? Não, não puderam mesmo. Em um caso como este podemos dizer que ambos os lados estão errados, que os dois cometeram excessos e não respeitaram valores básicos, como o respeito aos símbolos religiosos e à vida humana.
                O erro de Charlie: existe uma diferença muito tênue entre discordar e desrespeitar. Vem à minha mente neste momento o famoso caso em que o rei espanhol Juan Carlos disparou contra o presidente venezuelano a frase “por qué não te callas?”. Naquela época o caso foi tratado de maneira mais jocosa do que política, mas era também clara nas palavras do então primeiro-ministro espanhol José Luiz Zapatero: “se puede estar nas antípodas das posiciones ideológicas, más é necessário respecto”. Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, havia criticado de maneira grosseira o antecessor de Zapatero, José Maria Aznar, ao que Zapatero rechaçou, apesar de também ser seu crítico: Aznar fora eleito pelo povo espanhol, era um ex-primeiro-ministro e merecia respeito. Diante da insistência de Chávez nas críticas, o rei espanhol mandou-lhe calar. O caso aqui pode servir para os cartunistas do Charlie Hebdo: eles realmente têm o total direito de discordar do Islã, dos terroristas e de tudo que quiserem, mas precisam respeitar os símbolos religiosos, entre os quais o profeta Maomé e o Alcorão.
                Se a intenção do jornal é criticar o fanatismo, o terrorismo e a intolerância, então que retratassem os responsáveis por este ato e não um profeta que ao longo de sua vida jamais foi fanático ou terrorista, muito menos intolerante. Durante toda sua vida, toda vez que era insultado ou ofendido, Maomé reagia de maneira pacífica, chamando ao diálogo e propondo discussões construtivas; jamais ordenou que se matasse ou que se destruísse nada que o ofendesse. Assim, estes cartunistas que, ao criticar o fanatismo, usam imagens do profeta do Islã ou do livro sagrado estão agredindo gratuitamente um inocente quanto a tudo isso.
                Maomé não se pinta e não se atribui falas fictícias: muitas pessoas não conseguem entender porque desenhos representando Maomé podem gerar tanta fúria por parte dos muçulmanos; e não apenas desenhos: há uma lista extensa de livros que foram considerados blasfemos por terem Maomé como personagem. O fato é que o Islã não permite que se desenhe Maomé ou que se atribua a ele qualquer diálogo, ainda que a intenção seja boa. E por quê?
                Os muçulmanos ao longo de toda a vida do profeta Maomé anotavam tudo o que ele fazia ou falava no tocante da religião. Surgiram, assim, a sunnah e os hadiths do profeta, ou seja, tudo o que Maomé falava ou fazia no que se referia à religião. Estas tradições do profeta foram transferidas de geração em geração por uma corrente de estudiosos, de modo que tudo que um muçulmano atribui a Maomé só pode ser o que ele de fato falou ou fez. Seria semelhante a um trabalho acadêmico: ninguém pode citar frases sem citar as fontes. Da mesma forma, tudo que se atribui a Maomé tem que ser comprovado pelos transmissores da sunnah ou do hadith. Sendo assim, não há atribuição de frases que Maomé não tenha de fato falado e que tenha sido anotado pelos seus seguidores. Seguindo este exemplo, também não se podem reproduzir imagens de Maomé: todos que forem a uma mesquita jamais encontrarão desenhos e muito menos imagens de Maomé. Em primeiro lugar quer-se evitar uma idolatria semelhante à que aconteceu com Jesus pelos cristãos; em segundo lugar, como não havia máquinas fotográficas na época, ninguém sabe ao certo como era Maomé e tentar reproduzi-lo seria incorreto e nada incorreto pode se relacionar a um profeta de Deus.
                Por todos estes motivos, retratar o profeta ou atribuir-lhe falas que não provêm da Sunnah é errado, ainda que a intenção seja boa. Imagine-se, então, no caso desta revista francesa que, ainda que criticasse algo merecidamente criticável – o terrorismo – usava símbolos sagrados do Islã.
                Terrorismo e Islamismo não combinam: quem realmente conhece a religião islâmica sabe que a morte de inocentes é um pecado da pior espécie. Várias passagens do Alcorão deixam claro que todo aquele que mata um inocente é como se estivesse matando toda a humanidade, ao passo que aquele que salva um inocente é como se estivesse salvando toda a humanidade. Acontece que o mundo islâmico, do ponto de vista político, vem sendo dilacerado de todas as formas ao redor do mundo. Desde que os Cruzados invadiram de forma tão violenta e anticristã a Terra Santa, tentando tomar para si a cidade de Jerusalém, patrimônio de três fés, abriu-se uma fenda incurável entre muçulmanos, cristãos e judeus, que até hoje marcam a História. E é exatamente nestas fendas que extremistas “pescam” terroristas, usando interpretações equivocadas da religião, escolhendo versículos retirando-os do contexto e cometendo um pecado imperdoável, que a o assassinato de inocentes, seja de que religião for.
                O futuro do Islã: o Islã não precisa de defesa, tampouco Maomé e muito menos Deus. O que os muçulmanos revoltados com o Charlie Hebdo argumentam é o desrespeito aos nossos símbolos, atribuindo imagens e falas incongruentes com a verdadeira religião. Mas daí a cometer assassinato é uma distância muito longa. Ainda que os cartunistas não se enquadrem na categoria de “inocentes”, mais vale seguir o exemplo do profeta: o diálogo, o discurso. E se tudo isso falhar, o processo, as leis do país, ainda que se perca uma, duas, três ou “n” causas.
                O futuro do Islã é glorioso, como o Alcorão mencionou. Não só porque é a religião que mais cresce no mundo, mas porque seus princípios são de paz, tolerância e preparo do ser humano para tudo que lhe faz bem e o afastamento de tudo que lhe é prejudicial. A religião islâmica é de paz – sim, de paz, sem ironias – e por mais que os noticiários e os terroristas façam parecer o contrário, sempre podemos recorrer ao Alcorão, à Sunnah e ao Hadith para saber realmente o que é o Islã e o que são os muçulmanos.
                Não somos 1,4 bilhão de pessoas com bombas amarradas na cintura prontos a nos explodir a qualquer momento.
                Somos 1,4 bilhão de pessoas clamando: Allaho Akbar – Deus é Grande!


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